IBINews 216: Entender é mais importante que lembrar
31 jan 22

IBINews 216: Entender é mais importante que lembrar

IBI News

Na última quinta-feira, celebrou-se o Dia Internacional da Memória às Vítimas do Holocausto. A data faz referência à liberação de Auschwitz-Birkenau, o maior campo de extermínio nazista, em 1945.

Para marcar a ocasião, é costume dizer: “nós lembramos”.

Mas consideramos importante ir além. E fazemos um convite à reflexão: lembrar do que? Lembrar para que?

Para nós, lembrar do passado só tem sentido se for para agir no presente. Honrar as vítimas é lutar por um mundo onde não exista lugar para novos genocídios.

Ao mesmo tempo, o Holocausto não pode ser tomado como um evento tão excepcional a ponto de se tornar inconcebível. Não foram “monstros”, desses que existem apenas na fantasia, os responsáveis pela tragédia. O Holocausto é fruto da ação dos homens e revela o que seres humanos são capazes se não houver atenção contínua.

Finalmente, é preciso historicizar o passado, compreendendo os processos que levaram à tragédia. O nazismo não começou com Auschwitz. Assim, entender os sinais que preparam o terreno a determinada realidade permite agir enquanto ainda é tempo para evitá-la.

A partir dessa compreensão, a passagem da data inspirou a atuação do IBI em múltiplas frentes.

O marco dos 77 anos da libertação dos campos de Auschwitz serviu como ponto de partida para um debate organizado em parceria com a Universidade Zumbi dos Palmares, com a proposta de investigar as conexões históricas e ainda presentes entre judeus e negros, dois grupos violentados que compartilham, na perspectiva de seus algozes, a dimensão mais elaborada de raças inferiores ou degeneradas.

O painel contou com três especialistas: Rosiane Rodrigues, a doutora em Antropologia, conselheira consultiva do IBI e especialista em Altos Estudos do Holocausto pelo museu Yad Vashem de Israel; Omar Thomaz, professor de pós-graduação em Antropologia Social e História da UNICAMP; e Carlos Reiss, educador e coordenador-geral do Museu do Holocausto de Curitiba.

Na imprensa, Roberto Simon e Natalia Pasternak, integrantes do Conselho Consultivo do IBI, publicaram um artigo no jornal O Globo sobre memória do Holocausto e pandemia, e a disseminação da lógica negacionista.

Natalia também participou do programa Em Pauta, da GloboNews, no qual o jornalista Guga Chacra citou o IBI ao apresentá-la para o público. “Os negacionismos histórico e científico são duas faces da mesma moeda”, alertou a microbiologista.

O assessor acadêmico do IBI, Michel Gherman, falou sobre o simbolismo da data e a luta contra o antissemitismo ao canal My News. 

Já a edição desta semana do podcast “E eu com isso?”, com o professor da USP Sarkis Sarkissian, trouxe à tona uma outra experiência histórica trágica: o genocídio armênio – calcula-se em 1,5 milhão, o número de vítimas -, perpetrado pelos turcos no começo do século XX, e que serviu de preâmbulo para a elaboração da “solução final” nazista.

E o Gaavah, coletivo judaico LGBTQIA+ do IBI, apresenta, até o dia 30, algumas histórias de pessoas LGBTQIA+, não necessariamente judias, que resistiram ao nazismo. Estima-se que 50 mil pessoas de vivência LGBTQIA+ foram aprisionadas, e 15 mil enviadas aos campos de concentração. Já foram divulgadas as história de Rudolph Brazda e Karl Gorath.

CONFIRA OS DESTAQUES DA SEMANA!

Alerta global sobre antissemitismo: A celebração do Dia Internacional em Memória às Vítimas do Holocausto foi marcada também por um alerta global sobre o crescimento do antissemitismo durante a pandemia. Não apenas agressões verbais e físicas se multiplicaram, como discursos de distorção do Holocausto encontraram terreno fértil, à razão de 10 casos relatados por dia em 2021, segundo levantamento da Agência Judaica e da Organização Sionista Mundial (OSM).

A França, por exemplo, registrou ao menos 589 atos antissemitas no último ano, aumento de 75% em relação a 2020.

O tema foi tratado no Expresso Israel, com as jornalistas  Daniela Kresch e Isabella Marzolla. 

O case Brasil 247: Em um caso local de antissemitismo, a jornalista Lúcia Helena Issa se referiu a Israel como sendo um paraíso mundial dos pedófilos, entre outras absurdos, em um programa na TV 247. O IBI, ao lado de outras organizações da comunidade judaica, denunciou esse material, solicitou sua exclusão e reivindicou um espaço na mesma plataforma para contrapor as acusações. 

Em seguida, a TV 247 retirou a live do ar. Adicionalmente, convidou os professores Michel Gherman, assessor acadêmico do IBI, e Bia Kushnir, autora da obra “Baile de máscaras: mulheres judias e prostituição – as polacas e suas associações de ajuda mútua”, para uma entrevista na qual os pontos da live excluída puderam ser rebatidos.

A fala de abertura da editora do canal, Gisele Federicce, foi elucidativa: “Ao longo desta semana descobri que existe um desconhecimento imenso sobre o que é antissemitismo. Existe uma confusão grande sobre o que é preconceito e negacionismo quando se trata de judeus”.

Como dissemos, lembrar do passado só tem sentido se for para agir no presente. E, para tanto, é preciso compreender os processos em curso. Esse é o modo IBI de fazer. Ficamos felizes de poder  contar com você nessa caminhada. 

Aula inaugural na UnB: Na última quarta-feira, o departamento de história da UnB transmitiu uma aula inaugural sobre o conflito palestino-israelense, ministrada por Michel Gherman. O evento teve uma importância singular, na medida em que a Associação dos Docentes da universidade publicou em março do ano passado uma moção contrária a qualquer cooperação da UnB com Israel. No documento, a associação atribuiu o status de apartheid ao Estado judaico. Veja.  

Dia da Visibilidade Trans: Hoje é o Dia Nacional da Visibilidade Trans. Para celebrar, o Gaavah conversa com Rivka Ramos Mendes, uma pessoa trans não-binárie que coloca sua vivência enquanto pessoa trans na sua arte poética em português e iídiche, o idioma milenar judaico falado pelas comunidades ashkenazim. Às 19h40, na página do Gaavah no Instagram. Mediação de Daniela Wainer. Acompanhe. 

Artigos Relacionados

Gaavah homenageia Gad Beck em Yom Hashoá
Gaavah homenageia Gad Beck em Yom Hashoá

Calendar icon 4 de maio de 2022

Neste Iom HaShoá vehaGvurá (Dia em lembrança às vítimas do holocausto e ao Heroísmo), com apoio do Museu do Holocausto de Curitiba, O Gaavah, coletivo judaico LGBTQIA+ do IBI, compartilha a fascinante trajetória de Gad Beck, ativista judeu e LGBTQIA+, sobrevivente do holocausto que salvou diversas famílias judias do extermínio nazista com orgulho de suas […]

Arrow right icon Leia mais
IBI no Campus: inscrições abertas | 2º semestre de 2025
IBI no Campus: inscrições abertas | 2º semestre de 2025

Calendar icon 15 de julho de 2025

Já faz parte? Continue com a gente.  Quer fazer parte do projeto? Essa é sua oportunidade!  Desde 2020, o IBI acolhe e subsidia estudantes e pesquisadores por meio do projeto IBI no Campus, braço acadêmico da instituição. Trata-se de um projeto nacional e online de estudo, pesquisa e reflexão sobre temas diversos – sempre de […]

Arrow right icon Leia mais
Cooperação entre judeus e negros é tema de encontro da série Judeidade e Negritude
Cooperação entre judeus e negros é tema de encontro da série Judeidade e Negritude

Calendar icon 10 de novembro de 2022

Pesquisadores do tema destacarão alianças históricas entre os povos também nos Estados Unidos e na África do Sul O Instituto Brasil-Israel (IBI), em parceria com o Museu Judaico de São Paulo e com a Casa Sueli Carneiro, promove, no próximo dia 19 de novembro, em celebração ao Dia da Consciência Negra, o encontro “Alianças históricas: marcos de cooperação entre judeus e negros no […]

Arrow right icon Leia mais