O maior governo que Israel já teve
Daniela Kresch
TEL AVIV – O novo governo israelense é o maior da história do país. São 34 ministros responsáveis por 36 pastas, além de uma dúzia de vice-ministros. O governo é tão inchado que tem até dois primeiro-ministros, ambos chamados Benjamin: o “Bíbi” Netanyahu e o Benny Gantz. O primeiro Benjamin, pelo acordo de “rotação” entre os dois líderes, será premiê por 18 meses. E o segundo o substituirá depois disso por mais 18 meses (se isso realmente acontecerá, só o tempo dirá – vai chover no dia em que Netanyahu abrir realmente mão do poder).
A inflação de cargos é um dos maiores calcanhares de Aquiles do novo governo que tomou posse no domingo, 17 de maio. Dos 120 membros do Knesset, o Parlamento em Jerusalém, 73 são parte da coalizão chefiada pelos Benjamins. E mais da metade deles é, além de parlamentar, ministro de Estado (em Israel, o cargo de ministro é, em geral, político, não técnico).
Não é à toa que muitos comediantes israelenses já começaram a criar esquetes, memes, vídeos e textos. Um dos melhores é o do programa “Zehu ze!” (“É isso aí!”), que começou em 1978 e riu de tantas guerras (até porque chorar não adianta nada), conflitos e governos. O programa deu algumas paradas, mas voltou com toda a força agora em 2020 para “rir” do Coronavírus, suas consequências e seus ecos. Nada mais justo do que reclamar de como a criação de novos e questionáveis ministérios, como os de “Jerusalém e Legado judaico”, “Educação Superior e Recursos Hídricos”, “Cyber”, “Assentamentos”, “Promoção Comunitária”.
Os veteranos comediantes Guidi Gov, Moni Moshonov, Dova’le Glickman e Avi Kushnir, do “Zehu ze!”, acertaram na mosca e no tom em um quadro que viralizou. Nele, um âncora de TV discute a criação de dois novos ministérios ridículos e a possível criação de um terceiro. Um seria o Ministério do ‘Dedo do Meio’ (imagine alguém fazendo o gesto), o outro seria Ministério de “Aqui, ó” (imagine um homem apontando para seu órgão masculino) e o Ministério de “Não importa o quanto eu f*** vocês, vocês continuam a votar em mim”.
O âncora pergunta por que criar ministérios em meio à crise econômica. Os entrevistados, claro, desconversam. O vídeo está legendado em português aqui.
Os membros da nova coalizão dizem que esse é o preço do governo de União Nacional celebrado pelo partido de direita Likud (de Netanyahu) e o partido de centro Azul e Branco (de Gantz). Sem esse acordo entre os dois partidos rivais, provavelmente Israel teria que enfrentar mais uma eleição – a 4ª desde abril de 2019. Isso porque os eleitores não conseguiram, em três pleitos em menos de um ano, dar ao bloco de direita ou ao bloco de centro-esquerda a maioria dos votos.
Mas o preço é alto. E nem bem a coalizão deu seus primeiros passos, os israelenses já começam a reclamar, principalmente em meio a uma crise econômica e sanitária sem precedentes causada pela COVID-19, que levou o nível de desemprego a mais de 22% (era 4% no começo de março) e dizimou milhares de empresas. Neste momento, distribuir cargos criando novos ministérios – cada um caríssimo – é a resposta?
“Eles criaram ministérios que nunca existiram em Israel ou em outros países”, diz Eran Vigoda-Gadot, professor de Administração Pública, Ciências Políticas e Governança da Universidade de Haifa. “Não há evidências de um ministro do Ensino Superior na maioria dos países. É quase ridículo e não é motivo de orgulho. Em outros países, os governos podem servir bem ao público com 11, 14 ou 18 ministros. Este é um número vertiginoso e acho que a insatisfação do público está apenas nos estágios iniciais de expressão. Sabemos que há algum movimento de protesto em andamento e ouviremos mais sobre isso no futuro”.
Não sabemos quanto tempo esse governo vai durar. Ele pode se desmanchar por questões ideológicas (principalmente quanto à possibilidade de anexação de assentamentos israelenses na Cisjordânia, em julho), por embates políticos, por ego, por causa da julgamento de Netanyahu por corrupção (que começa na semana que vem) e outros motivos mais. Quer dizer, pode ser mesmo que não dê certo. Mas, certamente, o tamanho da máquina pública pode ser mais um condimento de indignação popular contra a coalizão.
Abaixo, a lista completa de ministros deste novo governo:
1) Benjamin Netanyahu (Likud) – primeiro-ministro
2) Benny Gantz (Azul e Branco) – primeiro-ministro alternativo e ministro da Defesa
3) Eli Cohen (Likud) – ministro da Inleligência
4) Gabby Ashkenazi (Azul e Branco) – ministro das Relações Exteriores
5) Israel Katz (Likud) – ministro da Fazenda
6) Yoav Galant (Likud) – ministro da Educação
7) Arie Deeri (Shas) – ministro do Interior e do Desenvolvimento de Periferia, Neguev e Galileia
8) Hilly Truper (Azul e Branco) – ministro da Cultura e dos Esportes
9) Omer Yankelevitch (Azul e Branco) – ministra da Diáspora
10) Avi Nissankorn (Azul e Branco) – ministro da Justiça
11) Amir Perez (Partido Trabalhista) – ministro da Economia
12) Yuval Shteinitz (Likud) – ministro da Energia
13) Yaakov Litzman (Judaísmo da Torá) – ministro da Construção e da Habitação
14) Yaakov Avitan (não é parlamentar) – ministro para Assuntos Religiosos
15) Yuli Edelstein (Likud) – ministro da Saúde
16) Amir Ohana (Likud) – ministro da Segurança Interna
17) Yoaz Hendel (Derech Eretz) – ministro da Comunicação
18) Miri Reguev (Likud) – ministra do Transporte
19) Alon Schuster (Azul e Branco) – ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural
20) Yitzik Shmuli (Partido Trabalhista) – ministro do Trabalho e do Bem-Estar Social
21) Assaf Zamir (Azul e Branco) – ministro do Trabalho
22) Penina Tamano Shata (Azul e Branco) – ministra da Aliá e da Absorção
23) Guila Gamliel (Likud) – ministra da Defesa do Meio-Ambiente
24) Rafi Peretz (Yemina) – ministro de Jerusalém e do Legado judaico
25) Shai Yizhar (Azul e Branco) – ministro da Ciência e da Tecnologia
26) Zeev Elkin (Likud) – ministro da Educação Superior e de Recursos Hídricos
27) David Amsalem (Likud) – ministro do Cyber e da Digitalização Nacional
28) Guilad Erdan (Likud) – ministro da Cooperação Regional
29) Tzipi Hotovelly (Likud) – ministra dos Assentamentos
30) Merav Cohen (Azul e Branco) – ministra da Igualdade Social e das Minorias
31) Orly Levi Abekassis (Guesher) – ministra do Fortalecimento e Promoção Comunitários
32) Orit Farkash (Azul e Branco) – ministra de Assuntos Estratégicos
33) Michael Bitton (Azul e Branco) – ministro no Ministério da Defesa
34) Tzhi Hanegbi (Likud) – ministro sem pasta
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