
O fim do Ramadã foi violento e a tensão deve continuar em Israel
TEL AVIV – Um atentado no último fim de semana do Ramadã coroou o fim de dois meses de tensão em Israel, que acabou com 15 civis mortos em diversos ataques terroristas. Dessa vez, o ataque aconteceu em uma das entradas da cidade de Ariel, um dos maiores assentamentos israelenses na Cisjordânia.
Um segurança israelense de 23 anos foi morto por dois atiradores palestinos na noite de sexta-feira (29 de abril). Sua namorada estava com ele no posto de segurança e só sobreviveu porque ele a defendeu com seu corpo. Os criminosos foram presos neste sábado (30).
O grupo terrorista Brigadas dos Mártires de al-Aqsa reivindicou a responsabilidade pelo ataque, alegando que se tratou de “uma resposta à agressão israelense em Jerusalém”. Os palestinos acreditam que Israel tem intenção de destruir a Mesquita de Al-Aqsa, uma fake news absurda que vem se fortalecendo no mundo árabe-muçulmano.
Tudo isso não foi surpresa para ninguém. Todos esperavam, na verdade, que algo acontecesse neste fim de semana, o último do mês sagrado anual do Ramadã. O mês é, em geral, comemorado com jejum e introspecção durante o dia e festejos ao cair da noite, muita celebração em família e alegria. Mas, para alguns muçulmanos extremistas, o Ramadã é o momento de demonstrar lealdade a Alá atentando contra a vida de “infiéis” (quem não é muçulmano). Em Israel, isso significa matar principalmente judeus.
Mas, mesmo com o fim do Ramadã, as autoridades de segurança de Israel não estão respirando aliviadas. A próxima semana continuará sendo tensa, com três datas importantes. Para os israelenses, o Dia dos Mortos por Guerras e Terrorismo e o Dia da Independência, que começam no anoitecer da terça-feira (12) e terminam na noite de quinta (14). E para os palestinos, o Dia da Nakba (15 de maio), ou Dia da Tragédia, como eles chamam a criação de Israel.
Se depender do Hamas, essas datas são desculpa o suficiente para a realização de mais atentados contra israelenses. Quer dizer, o fim do Ramadã não marcaria o término da “resistência” contra Israel este ano. Em comícios em Gaza, os participantes pediram para que o Hamas “bombardeie Tel Aviv” e “exploda as cabeças dos sionistas”.
O líder do Hamas em Gaza, Yahiya Sinwar, fez um discurso depois do atentado em Ariel conclamando todos os palestinos (incluindo os árabes cidadãos de Israel) a atacar israelenses em toda a “Palestina”: em Beer-Sheva, na Galileia, em Lod, em Haifa – áreas e cidades internacionalmente reconhecidas como partes legítimas de Estado de Israel, não de territórios ocupados ou em disputa com os palestinos (Cisjordânia e Jerusalém Oriental).
Como se sabe, os grupos extremistas palestinos acreditam que toda essa área é Palestina. Israel não tem direito a existir. Aliás, nisso eles se parecem com ultranacionalistas israelenses, que defendem o contrário: que tudo deveria ser Israel. É claro que a grande maioria dos ultranacionalistas israelenses não prega a realização de atentados terroristas contra civis e inocentes palestinos para alcançar seu objetivo. Mas eles defendem a anexação de terras palestinas a Israel.
Diante de toda a tensão, o exército israelense chamou reservistas para guardar as fronteiras e fazer ações de prevenção na Cisjordânia. O número de tropas na Cisjordânia dobrou de 12 para 25 batalhões. Isso significa prisões preventivas de palestinos e muitos confrontos. Quer dizer, a tensão dos extremistas afeta a vida dos palestinos na Cisjordânia, que se torna ainda mais complicada com o aumento das buscas, apreensões e da repressão que isso impõe.
Para os israelenses, acostumados a tensões, atentados e guerras (se é que é possível se acostumar a isso), a vida continua, apesar de tudo. Escolas, serviços, escritórios, tudo funciona normalmente. Mas o temor de mais atentados é percebido – mesmo em quem prefere fingir que nada está acontecendo.
Novamente, os extremistas sequestram a realidade da maioria pacífica silenciosa – dos dois lados. E a vida acaba seguindo a pauta traçada por esses marginais.
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