É possível separar a arte do artista cancelado? Christian Dunker responde
24 mar 22

É possível separar a arte do artista cancelado? Christian Dunker responde

Movimentos recentes de cancelamento e boicote contra assediadores, tais como a campanha #MeToo, têm atingido vários artistas, muitos deles judeus, como Woody Allen, Roman Polanski e Harvey Weinstein. Então o que fazer quando repudiamos as condutas de um artista, mas apreciamos o seu trabalho? É possível separar a obra de seu autor?

No episódio desta semana do podcast “E eu com isso?”, do Instituto Brasil-Israel, as apresentadoras Amanda Hatzyrah e Ana Clara Buchmann conversaram sobre o tema com o psicanalista Christian Dunker, professor do Instituto de Psicologia da USP, na tentativa de tecer uma análise sobre esse fenômeno especialmente comum na era digital, e principalmente popular entre os millennials e a geração Z.

Dunker trouxe na conversa referências históricas que ajudam a buscar uma contextualização do “cancelamento” nos dias de hoje: “A gente tinha uma posição clássica que dizia assim: ‘olha, a arte é uma linguagem autônoma, ela tem que ser observada, fluída e pensada a partir da obra. A obra é que vale, então é a linguagem que a obra cria, o avanço e a transformação que ela coloca enquanto acréscimo nessa conversa infinita, que é a arte”. 

“É assim que a gente deve apreciar uma produção estética, ou seja, forçando bastante o fato de que ela é uma ficção, uma hipótese, uma versão que pode vir a se realizar no mundo como pode vir a não se realizar, ou pode ser uma versão negativa dos mundos possíveis, uma versão que pode ensinar muito sobre o que nós não queremos”.

O professor e psicanalista também buscou respostas sobre alguns cancelados judeus: “O fato de serem homens, muitos judeus, é um fato ambíguo; vamos dizer que é por que mais judeus estão em posições de poder? É por que mais judeus praticam atos ilícitos? É sempre muito complicado fazer esse tipo de generalização, mas por outro lado, justamente porque essa generalização está latente, é que os cancelamentos já estão impulsionados de modo inconsciente também no mal sentido, no sentido de reforçar preconceitos”.

“É um fenômeno que a gente reputa ser novo, ele é contemporâneo da expansão da linguagem digital e é um pouco diferente da reprovação que alguém sempre pode estar sujeito pela opinião pública. Há certas características no cancelamento que envolvem a sua velocidade, um sentido de retaliação e punição e uma desconsideração pelo tempo das explicações, do debate, da justificativa. De fato, isso não pode ser comparado com outras formas, vamos chamar assim, de punição ou de crítica moral”, conclui Dunker. Escute.

<a href=”http://

Anchor

Apple Podcasts

Breaker

Castbox

Deezer

Google Podcasts

Orelo

Pocket Casts

Podcast Addict

RadioPublic

Spotify

Stitcher

YouTube 

Artigos Relacionados

IBI no Campus: inscrições abertas 1º semestre de 2025
IBI no Campus: inscrições abertas 1º semestre de 2025

Calendar icon 24 de fevereiro de 2025

Desde 2020, o IBI acolhe e subsidia estudantes e pesquisadores por meio do projeto IBI no Campus, braço acadêmico da instituição. Trata-se de um projeto nacional e online de estudo, pesquisa e reflexão sobre temas diversos – sempre de forma gratuita.  Nele, estão envolvidos professores, estudantes e pesquisadores de universidades brasileiras e internacionais, organizados em laboratórios […]

Arrow right icon Leia mais
Entre a Shoá e a Escravidão
Entre a Shoá e a Escravidão

Calendar icon 24 de março de 2022

Por João Torquato

Arrow right icon Leia mais

NATAL EM ISRAEL E TURISMO RELIGIOSO | Expresso Israel #10 com Daniela Kresch

Calendar icon 2 de fevereiro de 2022

Arrow right icon Leia mais