
IBINews 205: Sonhar é preciso
IBI NewsPor trás de imagens absurdas, associações incongruentes e situações, personagens e lugares aparentemente sem sentido, o sonho, já dizia Sigmund Freud, é a via régia para o inconsciente.
Foi a partir dessa premissa que o escritor israelense Iddo Gefen, pesquisador de ciência neurocognitiva, fascinado pelo modo como nosso cérebro percebe e processa narrativas, decidiu investigar o universo onírico de pessoas que vivem na tensão das fronteiras entre Cisjordânia, Gaza e Israel, compilando sonhos de cinquenta israelenses e palestinos.
O resultado, expresso em artigo publicado com o apoio do IBI na revista Quatro Cinco Um deste mês, mostra como os sonhos não se limitam a ecoar a realidade: também a questionam e oferecem opções para transformá-la.
Como seria de esperar, muitos descreveram sonhos apavorantes envolvendo situações de risco ou morte.
Da garota palestina de Gaza que sonhou que percorria uma trilha muito longa enquanto bombas explodiam o tempo todo a seu redor – no sonho, ela encontrava uma casa para se esconder, mas de repente a casa também começava a explodir; à jovem israelense judia, que sonhou estar em um concerto em pleno dia, quando, de repente, tudo ficou escuro e mísseis despontaram no horizonte, tendo ela acordado em pânico logo antes de um míssil a atingir.
Todavia, muitos dos sonhos compilados não eram nada traumáticos ou assustadores. Alguns eram otimistas, e até engraçados. Como o de Zohar, um judeu israelense, que sonhou com mísseis cheios de sorvete caindo sobre si. Outros sonhos incluíam encontros cara a cara entre palestinos e israelenses.
NA PANDEMIA
A elaboração do trauma a partir do inconsciente é um traço comum que percorre a história da civilização. Tivemos e ainda temos uma pandemia que ocupa nossas mentes e constitui um precioso objeto de estudo. Neste sentido, merece destaque o livro “Sonhos confinados: o que sonham os brasileiros em tempos de pandemia”, no qual diferentes grupos de psicanalistas passaram a coletar, registrar e escutar sonhos, culminando em uma pesquisa multicêntrica coordenada por três universidades públicas brasileiras: UFRGS, USP e UFMG.
Desse trabalho conjunto surgiu um rico acervo. Um ponto importante foi a presença da mãe. Estivessem vivas, mortas ou há tempos sem contato, as mães eram figuras centrais nos sonhos, principalmente das mulheres.
Com o passar dos meses, os pesquisadores detectaram, também, uma alteração na maneira como a ideia de casa era representada pelo inconsciente. O que era tratado como um ponto seguro, longe do vírus, foi lentamente sendo transformado em uma prisão.
A máscara também se tornou algo mais frequente com o passar do tempo. Na visão dos pesquisadores, o constrangimento enfrentado pelas pessoas ao sonhar após saírem sem o equipamento de proteção seria o equivalente desta década de sonhar com nudez em público.
Como diz o neurocientista Sidarta Ribeiro, “sonhos são movidos a desejos e anti-desejos. Hoje em dia a gente sabe que os sonhos só existem quando existe a ativação de um sistema no nosso cérebro que chamamos de sistema de recompensa e punição”.
TERCEIRO REICH
E o que dizer sobre os sonhos da população alemã durante a ascensão de Hitler? Com a colaboração de ninguém menos que Hannah Arendt, a jornalista e ensaísta Charlotte Beradt (1907-1986) coletou e publicou em livro os sonhos de 300 pessoas, de 1933 a 1939, possibilitando um melhor entendimento sobre o funcionamento da estrutura social que se formou após a chegada do nazismo ao poder.
Os sonhos refletem – em chave ao mesmo tempo trágica e absurda – o medo que se disseminava no cotidiano da sociedade alemã e a angústia vivida por indivíduos dilacerados entre a recusa do nazismo e a atitude conformista.
“O líder nazista que afirmou que só durante o sono se tem vida privada subestimou as possibilidades do Terceiro Reich”, escreve a autora.
Como observa o psicanalista Christian Dunker no prefácio deste livro, “o sonho pode se mostrar um lugar de resistência. As pessoas inventam jeitos de dizer não”.
Sonhar é preciso.
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MINISTRA ISRAELENSE NA GLOBONEWS: A ministra israelense da Proteção Ambiental, Tamar Zandberg, conversou com Marcelo Lins, da GloboNews, em entrevista que contou com o apoio e produção do IBI. Tamar, do partido Meretz, foi uma dos principais ativistas do movimento de protesto social do verão de 2011, já presidiu o Comitê de Assuntos Femininos de Tel Aviv, esteve por trás de iniciativas como a introdução do transporte público no Shabat, avanço do casamento civil e do mesmo sexo e promoção de pequenos negócios dirigidos por mulheres. Na entrevista, prevista para ir ao ar neste domingo, às 19:30, ela falou sobre os atributos e desafios de Israel à luz da COP 26.
DIÁLOGOS ANTIRRACISTAS: No próximo dia 18, às 14:30, ocorrerá o debate “Mulheres negras e antirracismo: Brasil e Israel”, parceria do IBI com a Universidade Zumbi dos Palmares, dentro da programação do Fórum Internacional de Equidade Racial. A atividade contará com a presença de Juliana Kaiser e Linoy Jember, e mediação de Rosiane Rodrigues. Inscreva-se.
AULA GRATUITA COM TANGUY BAHGDADI: Em uma aula online e gratuita promovida pelo IBI, o professor de relações internacionais Tanguy Baghdadi, comentarista da GloboNews e podcaster no Petit Journal, abordará o conflito israelo-palesitno diante das mudanças pelas quais o Oriente Médio vem passando nos últimos anos. Inscreva-se.
A VALORIZAÇÃO DO SHEKEL: Se, no Brasil, o dólar não para de subir, chegando a valer quase 6 reais, em Israel a situação é contrária – o dólar não para de cair. Já estava em declínio há um certo tempo, mas, nos últimos dias, despencou. Na sexta-feira (12), chegou a 3,08 – o menor câmbio em 26 anos – fechando o dia em 3,11. A jornalista Daniela Kresch escreveu sobre por que a moeda israelense está tão valorizada e qual o impacto para a população do país. Leia.
EXPRESSO ISRAEL: No programa desta semana, que traz um resumo das notícias de Israel e região, a correspondente do IBI em Tel Aviv conversou com Isabella Marzolla sobre a aproximação diplomática entre Israel e Egito, as complicações envolvendo a empresa NSO, responsável pela fabricação do software Pegasus, e o fluxo migratório da Etiópia. Veja.
MUSEU JUDAICO ABRE SUAS PORTAS: No episódio desta semana do “E eu com isso?”, o podcast do IBI, Anita Efraim e Amanda Hatzyrah conversaram com Felipe Arruda, diretor executivo do Museu Judaico de São Paulo, que abre suas portas no começo de dezembro. “Não é um museu identitário, que trata apenas da sua identidade, mas um museu de alteridade, que está interessado no diálogo com o outro”, disse Arruda. Ouça.
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