A bandeira de Israel nas manifestações de grupos bolsonaristas
07 maio 20

A bandeira de Israel nas manifestações de grupos bolsonaristas

Tem muita gente perguntando sobre os motivos da presença da bandeira do Estado de Israel nas manifestações de grupos bolsonaristas.

Correndo o risco da simplificação, é mais ou menos o seguinte:

O governo Bolsonaro é um ajuntamento conjuntural de diferentes setores da sociedade brasileira, organizados a partir de perspectivas (a) ideológicas, (b) econômicas, (c) religiosas e (d) militares.

A imagem de Israel cumpre uma função distinta para cada uma delas.

(a) Ideologicamente, Israel é visto como uma ponta de lança da “civilização judaico-cristã” e um muro de contenção frente a “barbárie” do Oriente Médio. Nesse imaginário, o país encarnaria os valores ocidentais, como uma “ilha de democracia liberal em meio às ditaduras”.

(b) Economicamente, Israel é percebido como um exemplo bem sucedido do livre-mercado, apesar do tamanho diminuto e da escassez dos recursos naturais. O sucesso do neoliberalismo é condensado na fórmula “start-up nation”.

(c) Religiosamente, o Estado de Israel é confundido com a Terra de Israel bíblica. Assim, o país é percebido como uma “terra santa”, de cujo destino depende a redenção de toda a humanidade.

(d) Militarmente, Israel figura como uma entidade forte, em permanente estado de guerra, e que sabe se defender dos seus inimigos. Por vezes, é visto como “um exército que possui um Estado”, em vez do contrário.

Por tudo isso, Israel acabou se tornando um símbolo caro ao bolsonarismo.

O curioso (e trágico) dessa história é que, em geral, progressistas tendem a concordar nessa percepção imaginária de Israel, embora com os sinais trocados: o que uns veem como positivo, outros veem como negativo.

Para funcionar, é claro que uma série de características do Estado de Israel “real” e que não combinam com a narrativa precisam ser varridas para debaixo do tapete.

Vale lembrar, por exemplo, que:

(a) A terceira maior força partidária de Israel é árabe – em sua maioria, muçulmanos. O Estado conta com uma sociedade civil organizada e forte, da qual fazem parte importantes grupos árabes.

(b) Apesar de a direita estar no poder há bastante tempo, vários setores são ainda vinculados à economia estatal e pública. Educação e saúde em Israel são quase completamente públicas.

(c) 80% da população de Israel se considera não religiosa e, apesar de um debate contundente sobre o lugar da religião no Estado, há conquistas importantes no campo dos costumes, como a lei do aborto e da união civil de pessoas do mesmo sexo.

(d) Apesar da importância do exército em Israel, a sociedade civil mantém bastante independência e, diga-se, militares da ativa não podem assumir cargos públicos.

Artigos Relacionados


Colaborador do IBI dá entrevista ao jornal The Algemeiner

Calendar icon 17 de outubro de 2018

Guilherme Casarões analisou posicionamento de Jair Bolsonaro em relação a Israel

Arrow right icon Leia mais

IBI visita redação do jornal Hora do Povo

Calendar icon 16 de agosto de 2019

O IBI visitou, na última segunda-feira, a redação do jornal Hora do Povo. Em encontro com a equipe do jornal, foram discutidas questões ligadas ao novo contexto brasileiro e possibilidades de coberturas jornalísticas sobre temas ligados a Israel e Palestina na imprensa.

Arrow right icon Leia mais

Cerca de 25 mil pessoas protestam em Tel Aviv contra plano de deportação

Calendar icon 29 de março de 2018

mManifestação foi organizada por sudaneses e eritreus, juntamente com israelenses residentes no sul cidade

Arrow right icon Leia mais