IBI escreve carta para Boitempo editorial
IBIO Instituto Brasil-Israel escreveu carta direcionada aos editores da Boitempo editorial, em resposta ao vídeo “A ideologia sionista na educação de Israel”, publicado pela editora.
Confira a carta na íntegra
Aos editores da Boitempo,
A publicação do vídeo “A ideologia sionista na educação de Israel”, utilizado para divulgar o livro “Ideologia e propaganda na educação: a Palestina nos livros didáticos israelenses”, da autora israelense Nurit Peled-Elhanan, causou grande desconforto.
Nos surpreendeu que tenha sido divulgado num canal da Boitempo um material que reúne acusações e inverdades contribuem para a reafirmação estereótipos, em sentido oposto a qualquer convite à reflexão.
Em primeiro lugar, reconhecemos a importância do trabalho de pesquisa feito por Nurit sobre a maneira como os livros didáticos, em especial utilizados pelo sistema de ensino religioso e nacional religiosos em Israel, retratam os palestinos. De acordo com Nurit, existe um “apagamento” da figura dos palestinos na educação israelense. Mas isto é exatamente o que o vídeo que apresenta o livro acaba fazendo com a figura dos judeus na Palestina! Isso nos leva a pensar: o que a própria Nurit pensaria desse vídeo usado para divulgar seu livro?
Quando se afirma que “os sionistas” produzem um “falseamento histórico”, sugere-se, antes de qualquer coisa, que os sionistas pensam e agem da mesma maneira, como se houvesse uma agenda política comum para o país. O que por si só é irreal. Soa como conspiracionismo de um povo – que lembra outra coisa. Mais grave é classificar como falsificação histórica o que é, em realidade, uma outra narrativa. Onde ficam os judeus sionistas que lutam contra a ocupação e pela criação do Estado Palestino? Onde estão Amós Oz, David Grossman, entre outros? O sionismo, tal qual o movimento palestino, são movimentos nacionais, e negar sua pluralidade é falsear sua natureza. Além disso, negar a relação dos judeus com uma terra específica é abrir a brecha para que se negue também a relação que os palestinos têm com uma terra específica. Sempre houve judeus na Palestina. Afirmar que os judeus que estão lá se valem da “construção social de uma etnia artificial” é uma maneira de negar a própria identidade judaica.
Em tempos de ameaça aos direitos individuais e coletivos, no Brasil e em muitas partes do mundo, é importante que a reflexão feita sobre identidades, religiões e povos seja cuidadosa. Do contrário, apenas contribui com o crescimento do racismo e da xenofobia.
Instituto Brasil-Israel
Atualização
A Boitempo respondeu a carta do Instituto. Confira na íntegra.
Ao Instituto Brasil-Israel
Em resposta à carta do Instituto endereçada aos editores da Boitempo, é preciso primeiro esclarecer que, ao longo de mais de 20 anos de atuação no mercado editorial, mantemos a posição de dialogar democraticamente com diferentes setores da sociedade, numa postura de fomento à pluralidade de ideias e de respeito mútuo.
Ao longo desse período, construímos um catálogo abrangente, com opções editoriais claras, mas sem interferência nas opiniões e posições de nossos autores e colaboradores. Condição que vale em igual medida para nossas plataformas de comunicação como o blog e o YouTube.
O comentário produzido por nossa colaboradora Sabrina Fernandes em torno do livro Ideologia e propaganda na educação: a Palestina nos livros didáticos israelenses, da filóloga israelense Nurit Peled-Elhanan, não foi sujeito a nenhuma intervenção por parte da editora. Embora o conteúdo reúna simplificações, comuns em materiais de pouca duração, ele não comporta inverdades ou falsificação histórica, e tampouco contradiz a posição geral da autora do livro, para quem “a ideologia sionista-israelense, professando os direitos históricos dos judeus sobre a terra de Israel/Palestina, a ameaça árabe e a necessidade de manter o regime de segregação para a segurança dos judeus, legitima a desigualdade étnica e a dominância judaica em Israel, que está na base da legitimação da expulsão e dos massacres.” (p. 209)
Reafirmamos nosso comprometimento em relação à independência dos nossos autores, colunistas e colaboradores no campo político, desde que isso não implique preconceito, hostilidade ou discriminação cultural, étnica ou religiosa.
Agradecemos o contato do Instituto e reafirmamos nosso compromisso com o debate respeitoso e plural no campo das ideias.
Boitempo
Artigos Relacionados
O extermínio no gueto de Varsóvia
12 de agosto de 2020
Ao redor de 400 mil pessoas compartilhavam um espaço de cerca de quatro quilômetros quadrados na cidade de Varsóvia, ao redor de 2,4% do território da cidade. Construído ao redor de 16 de novembro de 1940 o gueto de Varsóvia foi hermeticamente fechado com muros de 3 metros de altura e cacos de vidro na […]

Como estará Israel quando chegar aos 100 anos?
20 de abril de 2018
N0 aniversário de 70 anos do país, além de olhar para trás, o IBI também propõe uma reflexão sobre o futuro

Luciana Temer fala ao IBI sobre a importância da sociedade civil nas políticas públicas
27 de julho de 2020
Na quarta-feira, dia 29/07, às 18h, Marília Neustein conversa com Luciana Temer sobre o tema “Sociedade civil e políticas públicas”. Luciana Temer é advogada, professora Doutora em Direito pela PUC-SP. Foi Delegada de Polícia, Secretária da Juventude, Esporte e Lazer do Estado de São Paulo e Secretária de Assistência e Desenvolvimento Social do Município de […]
