27 anos do atentado à Embaixada de Israel na Argentina
Aaron Kaliman Levy
Há 27 anos, em 17 de março de 1992, a Embaixada de Israel na Argentina sofreu um atentado que comoveu a comunidade judaica e a sociedade argentina como um todo. Naquela terça-feira, as atividades na embaixada e na região do bairro do Retiro, na cidade de Buenos Aires, ocorriam com total normalidade, segundo relatos de sobreviventes. Até que, às 14:45, uma bomba explodiu destruindo o edifício e danificando outros nas proximidades, incluindo uma igreja católica e uma escola. Calcula-se um número de 22 mortos, mais de 200 feridos e milhares de pessoas afetadas por traumas e sequelas, tanto a nível individual como coletivo.
O atentado à Embaixada de Israel em Buenos Aires ocorreu dois anos antes do atentado à sede da AMIA, instituição judaica mais importante da Argentina e da cidade de Buenos Aires, que ocorreu em 18 de julho de 1994 e deixou 85 mortos. Em muitas ocasiões, os dois atentados são lembrados em conjunto, devido à sua proximidade temporal e às suas características comuns. Quanto às similaridades, em ambos os casos suas respectivas investigações judiciais enfrentaram obstáculos como negligência, corrupção e interesses políticos; ninguém foi sentenciado; as investigações estiveram paralisadas ou minimizadas por muito tempo. Até hoje, ambos os atentados permanecem impunes.
As investigações oficiais apontam o terrorismo internacional islâmico como principal suspeito, principalmente o grupo libanês Hezbollah e o Irã. Os atentados ocorreram durante o governo do presidente Carlos Saúl Menem, na Argentina. É possível que algumas políticas de Menem tenham sido entendidas como traição por certos setores islâmicos radicais e governos do Oriente Médio e, por isso, a Argentina tenha se tornado alvo das ações terrorista. Nesta hipótese, citam-se, principalmente, as promessas de cooperação nuclear e armamentista com o Irã e outros países muçulmanos não cumpridas pelo presidente, e o envio de dois tanques argentinos para a Guerra do Golfo em 1991, em apoio à coalizão liderada pelos Estados Unidos.
O atentado à Embaixada, junto com o atentado à AMIA, geraram um forte impacto na consciência e subjetividade da comunidade judaica argentina, demarcando um antes e um depois. A manifestação, ao mesmo tempo concreta e simbólica, de suas sequelas é refletida em muralhas de proteção que foram construídas desde então na entrada de cada instituição judaica, como barreiras de segurança para evitar possíveis ataques de carros-bomba. Enquanto o atentado à embaixada pode ser entendido como um ataque de caráter anti-Israel, já que seu objetivo foi uma instituição de representação oficial do Estado judeu, o atentado à AMIA demonstrou o pano de fundo explicitamente antissemita daquele terrorismo internacional. Este fato, combinado com a a maior magnitude do segundo atentado, fez com que o caso da AMIA fosse o mais importante e definitivo na memória coletiva. Muitas vezes, o caso da Embaixada é representado como um antecedente ao da AMIA.
De qualquer maneira, é realmente angustiante para os judeus na Argentina sentirem como o ódio se manifestou em suas piores formas, em forma de morte. É indignante enfrentar, ano após ano, a falta de justiça e impunidade. Indignante e preocupante, já que a impunidade “deixa a porta aberta”. Por isso, nós, da juventude judaica argentina, buscamos sustentar um compromisso com a memória e a busca pela justiça. Acreditamos que deve haver uma pressão política que impulsione as investigações e causas judiciais, tanto dentro do país quanto internacionalmente, para que se chegue a um mínimo de justiça possível.
Artigos Relacionados
Por que Ciro Gomes foi, sim, preconceituoso
18 de maio de 2020
Ex-governador associou presença da bandeira de Israel em manifestações bolsonaristas ao “dinheiro para o financiamento dos grupos de WhatsApp dele na campanha”

Um olhar psicanalítico sobre Israel e Palestina: entrevista com Christian Dunker
26 de agosto de 2020
No início deste ano, o psicanalista e professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, Christian Dunker, viajou a Israel e à Palestina a convite do IBI. Durante a viagem, participou da conferência “Política e religião no Brasil e nas Américas: igrejas evangélicas e suas relações com o judaísmo, sionismo, Israel e as […]


E eu com isso? #264 Trauma e desmentido em 7 de outubro
15 de maio de 2024
Desde o 7 de outubro, a memória do Holocausto tem sido evocada para falar sobre aspectos do trauma que eventos como esses deixam na História Judaica, sobretudo quando não há espaço para legitimação das dores de suas vítimas. De que forma sobreviventes de eventos traumáticos podem elaborar sua experiência, mesmo diante do negacionismo? E como […]
