Rússia no Oriente Médio: como Israel deve se posicionar
Heni Ozi CukierEm meu último artigo para o IBI, escrevi sobre a necessidade de Israel diversificar suas alianças. De todos os potenciais aliados, a Rússia é o país que tem ganhado mais relevância e importância no Oriente Médio pós Primavera Árabe. Moscou tem buscado se posicionar como o mais influente fiador e mediador político da região. Os últimos movimentos da Rússia, e a resposta dos outros países da região, confirmam a estratégia do Kremlin e reforçam a necessidade de Israel entender o papel que Moscou terá em relação em relação aos seus futuros conflitos e inimigos, principalmente o Hezbollah.
Arábia Saudita
No início de outubro, uma visita inesperada chamou atenção do mundo e ainda mais do Oriente Médio. O Rei Salman fez a primeira visita oficial de um monarca saudita para a Rússia. O presidente Vladimir Putin já havia feito o convite há mais de dois anos, mas o encontro acontece em um momento de incertezas e de rearranjos estratégicos na região. A eleição de Trump, a crise dos países do golfo com Qatar, o impasse militar na guerra da Síria, fortalecimento do Irã diante do acordo nuclear e muitos outros eventos recentes tem dificultado a estabilização da região.
Por razões óbvias, o encontro dos dois lideres suscitou questionamentos sobre o status das atuais alianças e da política do Oriente Médio. Desde o inicio do conflito na Síria, a Rússia se inseriu no xadrez regional oferecendo apoio aos rivais e inimigos – Irã, Síria e Hezbollah – do bloco sunita liderado pela Arábia Saudita. Estaria a Rússia abandonando o Irã? Seria um recado para os EUA? Será que a Rússia estaria mediando uma solução para o conflito na Síria?
Como de costume, os movimentos de Putin não são unidimensionais e visam múltiplos objetivos. O líder russo é talvez o maior estrategista de política internacional da atualidade e seus movimentos na região não podem ser vistos apenas pela ótica mensurável de acordos comerciais. O encontro gerou acordos de vendas de armas e, em se tratando dos dois maiores produtores de petróleo do mundo, não poderia ficar de fora temas de cooperação energética, especialmente após a coordenação estabelecida desde Janeiro para controlar o preço do produto no mundo. Porém, o fator geopolítico mais importante para a região foi o avanço dos russos em direção à consolidação da sua relevância regional.
Hezbollah
A relação da Rússia não se limita às potencias regionais, mas também se estende a atores menores da região como o Hezbollah. No contexto do relativo sucesso das forças pró-Assad na Síria, os militares israelenses passaram a avaliar a possibilidade de um novo conflito com o Hezbollah. A última guerra contra o grupo foi em 2006 e de lá para cá o seu arsenal cresceu, apesar da sua participação e desgaste no conflito na Síria. Mais importante do que tentar prever as causas de um novo conflito, Israel deve compreender como os russos responderiam e qual papel teriam em tal cenário dada a proximidade com a milícia xiita.
Provavelmente os russos não ficariam neutros caso uma guerra entre os dois afetasse os seus interesses e usaria sua influência para resolver o conflito. Por outro lado, um conflito também pode ser útil para os interesses russos dependendo do desenrolar das coisas na Síria. Se o regime do Assad se estabilizar e voltar a controlar mais territórios, a tendência é que o Kremlin entre em rota de colisão com o Irã por mais influência local. Nessa situação, um eventual conflito entre Hezbollah e Israel ajudaria a enfraquecer a posição do Irã e eliminaria a necessidade dos russos entrarem em atritos diretos com o seu aliado.
Nada disso significa que a Rússia apoiaria uma vitória total israelense pois o Hezbollah ainda tem um papel importante no equilíbrio de poder na Síria. E, ao mesmo tempo, bloquear uma vitória israelense seria um sinal de força e influência na região. Além de permitir aos russos se posicionarem como os pacificadores locais sem alterar o status quo que existia anterior ao conflito. Dessa maneira os russos sairiam como a única potencia capaz de produzir um acordo entre os beligerantes sem tomar partido e prejudicar algum dos lados.
Esse modelo de mediar conflitos e mantê-los congelados tem sido a estratégia praticada por Putin nos territórios pós-soviéticos como Donbass, Nagorno-Karabakh (Azerbaijão e Armênia) Abkhasia e Ossetia (Georgia) e Transnistria (Moldova). Moscou precisa se manter indispensável e nenhum dos seus aliados pode se tornar muito forte ao mesmo tempo em que não podem ser aniquilados. Israel precisa manter boas relações com os russos uma vez que o país vem se consolidando como um influenciador e fiador regional. É importante que Israel entenda as linhas vermelhas de Moscou e saiba manobrá-las e quando necessário ter a capacidade de fazer os russos modificar tais linhas.
Artigos Relacionados
Médicos, pilotos e rabinos: cresce oposição ao plano de expulsão dos requerentes de asilo
29 de janeiro de 2018
Centenas de profissionais israelenses pedem ao governo que não siga com as deportações dos solicitantes de asilo

Praticantes de yoga deixam Tel Aviv colorida e zen
22 de junho de 2017
Entusiastas comemoraram o dia internacional da tradicional prática oriental na Praça Rabin
